- @UsConservadores
Forças armadas, ditadura ou democracia?

Declaração desastrosa de Bolsonaro sobre as forças armadas demonstra exasperação
Todo mundo, em algum momento da vida, já conheceu o célebre mau perdedor, cujo
desespero do espírito é facilmente notável. Em alguns casos, não há problema algum,
torna-se satírico e terapêutico — para quem assiste, é claro. Agora, quando se está a falar
numa democracia, o mau perdedor não costuma ser motivo de boas risadas, mas o
responsável pelos atos mais tirânicos e indesejáveis que poderíamos imaginar.
Ao declarar que as forças armadas são as responsáveis por decidir se um país vive numa
ditadura ou não, o presidente incorre num erro grotesco, que seria aceitável vindo de um
leigo, não do chefe do executivo. Fugiu-lhe ao intelecto do presidente, que já encontra-se
deturpado o suficiente, que as forças armadas destinam-se, antes de tudo, à defesa da
Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e
da ordem, conforme disposto no Art. 142 da constituição. É compreensível, no entanto,
que a única parte deste artigo que os bolsonaristas conhecem é o trecho em que é dito que as forças armadas estão sob a autoridade suprema do Presidente da República — leitura mais do que suficiente para quem costuma descrever os livros pela cor da capa.
Valer-se de um poder tão precioso e importante como o das forças armadas, com o
objetivo de perpetuar-se no poder, ou para ameaçar valores como a liberdade, a ordem, a
lei, como o restante do trecho da fala do presidente sugere que possa ser feito, seria não só
uma nódoa no poderio militar do país como um dos gestos mais repudiáveis e torpes
cometidos.
Um presidente que está a cumprir a sua função constitucional, a trabalhar de modo
competente e beneficente, visando o seu povo como bem inegociável, não precisa ameaçar
a estabilidade política de sua nação, nem tampouco transparecer que é povo quem deve
subserviência às forças armadas. Ora, se os militares não respeitam os que foram destinados
a proteger, de que servem? Claro, há virtudes, valores e princípios invioláveis ao homem
social, de modo que existem situações em que povo precisa ser protegido de sua própria
rebeldia. No entanto, este não parece ser o caso de nossa nação.
"O povo", em abstrato, não cometeu maior mal a si mesmo, se comparado ao presidente
da República e ao seu ministro da saúde, que negligenciaram o potencial pandêmico,
recomendaram, sim, medicamentos ineficazes no tratamento da covid-19, disputaram com
outras lideranças do executivo o protagonismo político diante da pandemia, de modo a
repudiar medidas preventivas, como o uso de máscara e o distanciamento social,
convertendo o conceito de liberdade em rebeldia, incitando a revolta do povo contra os
governadores e demais líderes contrários aos seus princípios ideológicos e patológicos, dentre outros exemplos.
Ora, a única função do bolsonarismo durante toda pandemia foi envergonhar a nação a
nível mundial, foi a de desprezar medidas realmente eficazes, foi a de pregar negacionismo,
negligência, imprudência, rebeldia, foi a de semear a dúvida, o desdém; foi a de destruir o
espírito do cavalheirismo, que poderia acompanhar-nos e fortalecer-nos neste estágio tão
difícil.
Não há como aceitar o título de "conservador", quando se está a falar de um governo que
sequer pretende preservar a vida de seus governados, num governo que não preocupa-se
com o que legará à posteridade, num governo que preocupa-se apenas em gritar ao povo
que foi eleito de modo democrático, como se o mesmo rito não fosse capaz de destitui-lo
do cargo.
Bolsonaro é um dos piores castigos herdado pelas urnas brasileiras. Por Renan Jorge